E = mc²

A física contemporânea — sobretudo a termodinâmica, a teoria da informação e a física quântica — converge progressivamente para essa ideia central:
Tudo o que existe é energia organizada segundo padrões de informação.
A matéria é energia condensada (Einstein, E = mc²), e a estrutura dessa energia é padrão, frequência, ordem — em suma, informação.
Claude Shannon mostrou que informação é uma medida de ordem num sistema; Boltzmann e Gibbs demonstraram que a entropia (desordem) é a perda dessa informação. E John Wheeler resumiu isso com a célebre frase:
"It from bit" — a realidade física (it) emerge da informação (bit).
Logo, o universo é um fluxo de energia constante, mas que adquire forma através da informação. A forma não é substância — é padrão energético organizado.
Jung chegou à mesma conclusão, mas pela via interior. Para ele, o inconsciente não contém "coisas", mas padrões de energia organizados por imagens arquetípicas. Os arquétipos são formas de informação simbólica, e a libido (energia psíquica) é a força que lhes dá expressão.
A energia (libido) é o combustível. O arquétipo é o molde — a informação que dá forma à energia.
Daqui nasce o símbolo: a interface entre energia e forma. É por isso que Jung descreve o símbolo como "a melhor expressão possível de algo ainda desconhecido" — ou seja, o ponto onde a energia informe se torna consciência (informada).
O processo de individuação é precisamente isso: a energia psíquica vai-se organizando em formas cada vez mais coerentes de informação consciente, até atingir o Self — a totalidade informada do ser.
O Tarot, neste quadro, representa um sistema simbólico de informação sobre o modo como a energia universal se manifesta no humano. Cada carta é um estado energético com uma estrutura informacional própria — um arquétipo.
Por exemplo:
- O Ás de Paus representa energia pura, sem forma — potência criadora antes da informação.
- O Mago é a energia informada pela vontade — consciência que estrutura a força.
- A Imperatriz é a energia informada pela fecundidade, pela relação e pela criação.
- O Mundo (ou Universo) é energia completamente informada — totalidade manifestada.
Portanto, o Tarot é, em essência, um modelo da transformação da energia em informação — e de como essa informação retorna ao estado de energia pura, num ciclo constante (O Louco, 0 e XXII, a energia informe e infinita, o Alfa e o Ómega).
O corpo humano é o exemplo concreto dessa tese - só existe no universo (conhecido pelo Homem) energia e in-formação: converte constantemente energia (alimentos, oxigénio) em informação (organização celular, pensamento, memória, emoção). Cada impulso elétrico no sistema nervoso é energia; mas o seu padrão — a sequência, a frequência, a sincronização — é informação.
Na psique, acontece o mesmo: a energia emocional converte-se-se em pensamento; o pensamento estrutura-se em palavra; e a palavra retro-alimenta o corpo e o mundo. Tudo é re-circulação energética informada.
Assim, a fisiologia é a expressão biológica dessa lei, e o Tarot é a expressão simbólica dela.
Dizer — que só existe energia e informação — é, portanto, a base de uma cosmologia unificada:
- A Energia é o potencial, a força criadora, o movimento (Shakti, Pneuma, Fogo).
- A Informação é a ordem, o padrão, a consciência que dá forma (Logos).
Da interação entre ambos nasce a manifestação, ou seja, tudo o que conhecemos — do átomo ao pensamento.
No Tarot, esta relação é dramatizada:
- O Louco → energia pura.
- O Mago → energia que toma consciência de si (in-formação).
- O Mundo → energia informada plenamente.
O ciclo repete-se ad infinitum, tal como o metabolismo energético do corpo e o ciclo termodinâmico do cosmos.
Podemos resumir a tese, com linguagem simbólica e científica ao mesmo tempo, da seguinte forma:
Energia + Informação = Consciência.
O Tarot é a cartografia dessa equação. Cada arcano é uma variação no modo como a energia se informa, se deforma e se re-integra. Quando a energia se desorganiza, temos caos e sofrimento. Quando a informação estrutura a energia, temos consciência e criação. E quando ambas se unificam, temos plenitude — o Universo, o Self, a totalidade.
Esta formulação é profundamente coerente — tanto com a física moderna como com a visão simbólica do Tarot, e uma das sínteses mais elegantes da realidade conhecida.
O universo é, portanto, um imenso campo de energia informada, e o Tarot é a linguagem simbólica que o ser humano criou para o ler. Trabalhar com o Tarot é aprender a interpretar o movimento dessa energia — nas suas expressões de criação, destruição, resistência e renascimento — até reconhecer, no coração do Louco, o ponto onde tudo é Uno.
Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma — em energia e em consciência.