O que é real?

31-07-2025

Esta manhã, enquanto tomava o pequeno-almoço,  lembrei-me do filme The Matrix.

Daquela cena em que Morpheus diz a Neo:

"O que é real? Como defines o real?"

E de como ele depois lhe explica-lhe que aquilo a que chamamos realidade não passa de sinais eléctricos interpretados pelo cérebro.

Na altura parecia ficção. Mas e se for mais do que isso?

E se estivermos mesmo dentro de uma prisão — não de betão e grades, mas de percepções, pensamentos, crenças e ciclos?

Os órficos já diziam: sōma sēma — o corpo é uma prisão.

A alma, caída do mundo divino, reencarna, esquecida de si mesma, presa ao corpo como a um cárcere.

Viver é, para ela, um esquecimento. E a libertação exige uma purificação interior, uma travessia do esquecimento para o conhecimento.

Não se nasce livre — liberta-se quem desperta.

Séculos depois, Descartes duvida de tudo — até do próprio corpo.

E pergunta-se: "e se tudo for um sonho?"

Quando estamos a sonhar, acreditamos que é real. Só ao acordar percebemos que era ilusão.

Mas… e se nunca acordarmos verdadeiramente?

E se estivermos apenas a saltar de sonho em sonho, de cela em cela, como alguém preso que muda de prisão mas nunca conhece a liberdade?

Mesmo a morte — como num sonho em que se morre — pode não ser o fim. Pode ser apenas a passagem para outro cenário. Outra cela. Outro sonho.

O verdadeiro despertar não é a morte. É o reconhecimento.

É ver a prisão pelo que ela é. É ter consciência do sono — e, nesse instante, começar a acordar.

Orfismo, Descartes, Matrix — todos dizem a mesma coisa de formas diferentes:

Estás a sonhar.

Estás preso.

E só tu podes acordar.

Nota: A imagem de fundo representa a cena onde Neo perde a boca e é invadido pelo sistema. A mensagem é, para despertar, é preciso primeiro perder o controlo e ver a prisão a partir de  dentro. Em termos mais profundos, a perda da boca simboliza a perda do Logos (Palavra), da capacidade de nomear, de afirmar o Eu, de declarar a verdade. É uma violação da identidade espiritual - como se estivesse a ser dito, sem o dizer: "tu não falas. O sistema fala por ti. Não tens voz. Não tens realidade própria"

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