Oráculo de Delfos: "Conhece-te a ti mesmo"
"A alma evolui através da experiência e, consequentemente, através da sua acção no mundo. O resultado dessas experiências constitui o «objecto» de estudo da psicologia esotérica. Se adoptarmos uma visão espiritual evolutiva (um conceito que não tem qualquer relação com o evolucionismo darwiniano), devemos considerar que a experiência é o ponto central em torno do qual se dá a evolução. A experiência é acção (tendo em conta que até o simples acto de «pensar», ou seja, reflectir, se enquadra no domínio da experiência). O estado emocional que acompanha a experiência é o que define o tipo de experiência que estamos a viver.
No caminho da evolução pessoal, devemos reconhecer a possibilidade de passos atrás. Como «guias» em certas áreas desse percurso, temos a responsabilidade de apoiar a progressão e testemunhar a regressão. Nunca é função do guia julgar a qualidade da experiência, mas apenas reconhecer e testemunhar essa qualidade. Por vezes, os retrocessos permitem-nos encontrar caminhos diferentes e mais adequados a nós.
O que deveria ser essencial é ajudar a pessoa a alcançar uma avaliação menos «interessada» da experiência que viveu – não focada no resultado (como a Bhagavad Gita, um texto fundamental da cultura hindu, explica de forma exaustiva), mas sim orientada para a descoberta e o aprofundamento das motivações que conduziram à acção, do estado de espírito associado a essas motivações e da forma como essa acção se insere na existência.
Devemos, portanto, adoptar uma abordagem de análise que seja existencial e que parta do convite do Oráculo: «Conhece-te a ti mesmo».
Parece-me que este convite pode ser o equivalente psicológico da doutrina do desapego: o ser humano é o centro do seu mundo, está «lançado» no mundo, mas também é livre para ser aquilo que deseja, desde que reconheça esta condição – a de «ser lançado».
Esta psicologia é um hino à liberdade, mas essa liberdade pode igualmente conduzir à angústia face ao nada. Se não formos conduzidos gradualmente a descobri-la, podemos sentir-nos desorientados ao perceber que aquilo que acreditávamos ser não corresponde à verdade.
Nunca tendo tido a oportunidade de contemplar a nossa imensidão, um momento de solidão ou uma situação inesperada pode assustar-nos, confrontando-nos com o nada.
Esse nada antecipa aquilo que mais nos amedronta e que, na nossa cultura ocidental, se tornou quase um tabu: a morte – a possibilidade de deixarmos de ser."
Fonte: Marrè, D. (2007). La psicologia esoterica: Un viaggio dall'occulto all'inconscio (pp. 56-57). Xenia Tascabili.
O texto supramencionado da autoria de Davide Marrè reconhece que a evolução não é linear e que os "passos atrás" podem ser essenciais para encontrar novos caminhos. Na abordagem Ecos da Alma, essa visão está presente na análise das lições aprendidas na vida passada (Casa 7) e no impacto da vida passada na vida presente (Casa 8). Muitas vezes, o que parece ser um bloqueio ou um retrocesso é, na verdade, uma oportunidade de ressignificação e crescimento.
O texto dá grande importância ao estado emocional que acompanha a experiência, pois é isso que define a sua qualidade. No Tarot da Última Vida, as emoções são analisadas dentro do contexto da Morte (Casa 6), que representa a transição entre uma existência e outra. A morte, vista como um "tabu ocidental", é, na verdade, um processo natural de transformação, e compreender a forma como se experienciou a morte em vidas passadas pode ajudar a dissolver medos inconscientes no presente.
A relação entre o texto e Ecos da Alma – Tarot da Última Vida existe, pois ambos defendem uma perspectiva não determinista da experiência e uma abordagem existencialista do crescimento espiritual. A experiência, seja na vida presente ou em vidas passadas, deve ser compreendida sem julgamento, permitindo à alma encontrar novas direcções e um sentido mais profundo na sua jornada.
