Os Enamorados - O Drama da Escolha e a Arte da Integração 

28-08-2025

Os Enamorados – O Seis como Limiar

O 6 é o primeiro número perfeito: 1 + 2 + 3 = 6.

Para os pitagóricos, ele reflectia a ordem do cosmos, união do Céu e da Terra, equilíbrio entre espírito e matéria.

É o número do hexagrama, estrela de seis pontas que une o "acima" e o "abaixo".

E, no Génesis, o sexto dia é o da criação do Homem: síntese de corpo e alma.

Mas essa perfeição é apenas natural, não espiritual.

Omraam Mikhaël Aïvanhov dizia: o 5 é o Homem, o 6 é o homem com cauda.

Um ser completo na carne, mas ainda preso à animalidade.

O 6 é plenitude física, mas não transfiguração da alma.

É passagem necessária: sem o 6, não se chega ao 9.

O Seis na Tradição

  • Na Cabalá, o 6 é Tiferet, centro da Árvore da Vida: beleza, compaixão, equilíbrio. Mas também lugar de prova, onde corpo e espírito se enfrentam.

  • O quadrado mágico de Tiferet soma sempre 666: número que tanto exprime harmonia perfeita como cristalização na forma sem espírito.

  • Na Psicologia Junguiana, remete para a sombra instintiva: não para negar, mas para integrar.

  • Na Alquimia, é a matéria trabalhada mas ainda não ouro.

Assim, o 6 é duplo: pode ser coração divino ou animalidade refinada. É ambíguo como a própria condição humana.

O Arcano VI – Os Enamorados

No Rider-Waite, o mistério do 6 ganha corpo e rosto.

O homem e a mulher permanecem nus, frente a frente. Não são apenas figuras: são colunas vivas, representando os polos que estruturam a existência.

Atrás da mulher, a Árvore do Conhecimento enroscada pela serpente: instinto, tentação, memória do Éden.

Atrás do homem, a Árvore em Chamas: energia ativa, impulso, criação.

Ao fundo, ergue-se uma montanha solitária, lembrando que o Caminho é árduo, a meta exige esforço e perseverança.

Acima da cena paira o Arcanjo Rafael, envolto em nuvens, acima descem raios de sol. Ele é o único que está verdadeiramente "só dentro": mediação entre o humano e o divino, luz que orienta sem impor caminho.

A consciência simbolizada pelo humano não vê colunas exteriores: as colunas são ele e ela.

  • Ela representa Binah/Boaz: forma, contenção, tradição, instinto refinado.

  • Ele representa Chokmah/Jachin: expansão, impulso, criação, energia activa.

O drama não é escolher entre duas figuras externas: é integrar os contrários que já habitam o ser.

O Abismo de Daat

Entre os Enamorados abre-se um vazio secreto: Daat, o Abismo.

Aqui o homem decide se permanecerá no brilho da forma (666) ou se saltará no desconhecido em direcção ao espírito.

É sempre risco, sempre travessia.

Não há garantias — apenas fidelidade ao mais íntimo de si mesmo.

Do Seis ao Nove

O IX – O Eremita é o reflexo transfigurado dos Enamorados.

Nos Enamorados, o humano olha para o arcanjo.

No Eremita, ele próprio se tornou portador da luz.

A cauda do instinto converteu-se em lanterna.

A nudez diante do desejo transformou-se em solidão luminosa.

O coração dividido tornou-se coração iluminado.

Assim se cumpre a jornada:

  • VI – Os Enamorados: o humano em tensão, diante da escolha.

  • Daat: a travessia iniciática.

  • IX – O Eremita: o humano transfigurado, luz para si e para os outros.

Conclusão

O 6 é o número do limiar: perfeição da forma, imperfeição da alma.

Na cena Os Enamorados, a vida apresenta ao homem o drama da liberdade: escolher instinto ou espírito, mas descobrir, no fundo, que a verdadeira via é unir os opostos.

A coluna Jachin sem Boaz é dissipação;

Boaz sem Jachin é rigidez.

Somente o equilíbrio abre o Templo.

A montanha ao fundo lembra que o caminho é árduo; as nuvens que a verdade está velada; os raios de sol que a luz espera o coração que ousa.

E o arcanjo brama baixinho sobre a cena:

"o verdadeiro amor não divide — integra".

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