Resgate da Alma
Em 1997 sofri um grave acidente de viação que culminou num estado de coma. Nessas experiências, há a possibilidade da alma se fragmentar e partes ficarem suspensas, sem lugar definido, à espera de serem resgatadas — ou esquecidas.
O Tarot surge aqui como um espelho prismático da alma: não mostra apenas a superfície, mas reflecte cada fragmento oculto, revelando luzes e sombras que, juntas, compõem o todo. Tal como a luz quando atravessa um prisma se decompõe em múltiplas cores, cada carta revela camadas da experiência humana e espiritual, permitindo perceber aspectos do que se perdeu ou ficou retido.
O Tarot permite não só confirmar ou infirmar hipóteses, mas também orientar nos passos seguintes de integração e cura. Na tiragem que fiz, confirmou-se a necessidade de resgate, o wue abriu o caminho para recorrer a outra técnica — no meu caso, as constelações familiares com Joaquim Parra Marujo, um dos grandes especialistas neste trabalho transformador.
Tiragem Inicial
Pergunta: No meu acidente/coma em 1997 ficou parte da alma retida, a precisar de resgate?
Primeira Resposta:
• A Imperatriz → A vitalidade criadora ficou recolhida
• O Eremita → Não está perdida, mas em exílio profundo
• A Força → Deve ser resgatada com coragem compassiva
Não se tratava de uma perda absoluta, mas de um isolamento interior. A tarefa será chamá-la de volta ao círculo da vida.
Disposição Circular (sentido horário)

1. Parte perdida – A Sacerdotisa
2. Ferida – O Mundo
3. Guardião – A Roda da Fortuna
4. Chamado – O Diabo
5. Caminho de resgate – A Torre
6. Integração – O Eremita
7. Dom oculto – A Imperatriz
Centro (núcleo): A Força
A sequência é quase ritualística: arquétipos fortes e transformadores, confirmam que o Tarot revela algo essencial.
Leitura
No momento do acidente, uma parte de mim recolheu-se ao silêncio da Sacerdotisa, que guarda a ponte para o Mistério e a ligação à alma. Foi uma faceta profunda da consciência e da ligação com a própria essência espiritual que se recolheu ao silêncio, ao exílio interior, mantendo-se protegida atrás de um "véu", como se precisasse de tempo e segurança para regressar.
A ferida foi a do Mundo interrompido: senti que a plenitude do meu caminho se rompeu.
O guardião dessa parte da alma alienada é a Roda da Fortuna, símbolo do acaso que vira tudo de súbito.
O chamado vem do Diabo, para sublinhar que não posso evitar a sombra, nem os laços dolorosos. O regresso só é possível se eu tiver coragem de olhar para onde a energia está presa.
O caminho do resgate é a Torre: deixar ruir as muralhas e ilusões erguidas para sobreviver.
A integração dá-se no Eremita: no recolhimento e na luz interior reencontro essa parte exilada.
Quando retornar, floresce a Imperatriz: a vida renascida, o corpo fértil, a abundância criadora. Agradeço à minha mãe, pois foi através dela que a vida chegou até mim.
No centro, a Força vem lembra-me que o resgate não se faz com violência, mas com coragem compassiva, integrando até o que parecia impossível de amar.
Reflexão Pessoal
O acidente não foi necessário, mas contingente. Envolveu escolhas da alma e a relação com a minha mãe. Hoje consigo integrar esta experiência com gratidão e consciência, reconhecendo a vida e a força que me trouxeram até aqui.
O Tarot, enquanto espelho prismático da alma, permitiu-me perceber que cada fragmento, cada sombra e cada luz tem um papel. Ele não revela apenas o que está perdido, mas mostra o caminho para reintegrar e harmonizar todos os aspectos do ser.
Fecho Ritualístico
"O que estava disperso regressa. A alma volta a habitar o corpo."
"A Força é ternura: o fio que une o que se perdeu ao que volta a nascer."